Rafael Pereira
Com a evolução dos modos de
produção, a organização de nossa sociedade transformou-se. Segundo Gomes (2011)
as primeiras sociedades eram organizadas pelo igualitarismo social, com a presença
de lideres, mas sem instituições coercitivas. Atualmente vemos um Estado bem
estruturado, que atua com um corpo de leis (constituição) e as três esferas do
poder, executivo, legislativo e judiciário. Podendo controlar a sociedade por
meio do monopólio do uso da força legalizada.
Existe
um grande debate sobre como surgiu e funciona o Estado, este debate contempla
várias áreas do conhecimento como: a Ciência Política, a Filosofia, a Antropologia,
o Direito entre outros. Podemos citar os estudos de Thomas Hobbes, Nicolau
Maquiavel, Jean-Jacques Rousseau, Lenin, Gramsci, Engels entre outros, mas
analisaremos as teses de Karl Marx e John Locke. Locke desenvolve suas ideias a
respeito do Estado em sua obra Segundo Tratado do Governo Civil e Marx trabalha
sua tese sobre o Estado na obra Manifesto do Partido Comunista.
Segundo
Locke (1978) os homens inicialmente viviam em uma sociedade sem Estado, no
estado de natureza. Neste período os homens eram livres e pacíficos, e
desfrutavam do direito natural à propriedade. A terra foi concedida a todos por
Deus, e, portanto qualquer homem que agregar trabalho nela tem direito a propriedade.
Devido à necessidade do trabalho a propriedade a principio era limitada, mas em
um segundo momento com o surgimento do dinheiro foi possível à compra de
terras, podendo torna-la ilimitada.
O
estado de natureza possuía alguns inconvenientes, pois nem todos respeitavam os
direitos naturais o que levava os indivíduos da sociedade a entrarem em um
estado de guerra. Para findar os inconvenientes e consolidar os direitos
naturais do estado de natureza, os homens firmaram um contrato social, um pacto
de consenso que legitima o Estado. O Estado para Locke seria sustentado pelo
consenso da população e não pela tradição. “Locke sustenta a tese de que nem a
tradição nem a força, mas apenas o consentimento expresso dos governados é a
única fonte do poder político legítimo.” (MELLO, 2006, p.84).
As
obrigações do Estado para Locke seriam, garantir os direitos naturais,
principalmente a propriedade, e proteger a comunidade de invasões e crimes. O
povo após o contrato escolheria a melhor forma de governo para a sociedade, e
este governo deveria ser organizado sob leis, juízes e políticos. Os três
poderes não seriam autônomos, havendo uma supremacia do poder legislativo. “Na
concepção de Locke, porém, qualquer que seja a sua forma, ‘todo o governo não
possui outra finalidade além da conservação da propriedade.’ ” (LOCKE apud
MELLO, 2006, p.87).
Marx
organiza a sociedade em uma divisão de classes, que desempenham papeis
diferentes e são antagonistas. “A história de todas as classes até agora tem
sido a história das lutas de classes.” (MARX; ENGELS, 2008, p. 8). Estas
classes lutam pelo domínio social e conseguem o poder explorando uma a outra.
Segundo Marx e Engels (2008) uma classe ascende quando toma um papel
revolucionário e depõe a antiga classe dominante.
No
Estado Moderno a burguesia toma a hegemonia política e econômica, e submete à
outra classe a exploração. As classes ficaram divididas entre burguesia e
proletariado. O papel do Estado passa a ser o de defender os interesses da
classe dominante, a burguesia, em contraposição a outra classe, o proletariado.
“O poder do Estado moderno não passa de um comitê que administra os negócios
comuns da classe burguesa como um todo.” (MARX; ENGELS, 2008, p. 28).
A
propriedade ficou concentrada na burguesia que em seu processo de tomada de
poder expropriou grande parte da população. Porém para Marx e Engels (2008) a
mesma classe que mantem os lucros e é dominada será responsável pela destruição
desta configuração social, o proletariado acabará com o domínio burguês. Eles
terminam convocando o proletariado a se unir, e tomar o papel revolucionário de
derrubada da burguesia, acabando também com o Estado.
As
concepções dos autores divergem em vários pontos, entre os quais os mais
notáveis são o papel do estado e a regulação da propriedade. Devemos levar em
conta o contexto histórico e a ideologia de cada autor em suas teses. Marx é o
pai do socialismo cientifico e Locke pai do liberalismo político, a defesa da
propriedade de Locke é uma defesa dos ideais burgueses, e sua obra foi escrita
logo após a Revolução Gloriosa, a revolução que consolidou o poder da burguesia
na Inglaterra. Já Marx vivia os desdobramentos da Revolução Industrial e viu de
perto as precárias condições do operariado, e defendia uma reforma socialista
na sociedade com a suspensão da propriedade privada, que estava concentrada na
burguesia.
A
principal diferença na analise dos autores se encontra na maneira com entendem
a propriedade privada, pois a partir dela surgem os desdobramentos que levaram
a formação do Estado. Para Locke o Estado deve tem objetivo primário em
defender a propriedade e para Marx o Estado defende os interesses burgueses,
que na sua ascensão ao poder concentrou a propriedade em si.
Ambos
os autores são amplamente reconhecidos na academia cientifica e seus trabalhos
são considerados referência na Ciência Política. Deduzimos que a leitura de
suas obras é essencial para compreender a organização do Estado Moderno, porém
devemos levar em conta o contexto e a classe social em que os autores se
encontravam.
Referências:
GOMES, M. P. Antropologia. São Paulo: Contexto,
2011.
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil.
São Paulo: Nova Cultural, 1978.
MARX, Karl; ENGELS,
Friedrich. Manifesto do partido
comunista. São Paulo: Expressão Popular, 2008.
MELLO, L. I. A. John
Locke e o individualismo liberal. In: WEEFORT, Francisco (org.). Os clássicos da política. 14. ed. São
Paulo: Ática, 2006. cap 4, p. 78-89.